ADOLESCENTES COMEÇAM A BEBER CADA VEZ
MAIS CEDO
NO BRASIL, 80% DOS
ADOLESCENTES JÁ BEBERAM ALGUMA VEZ NA VIDA E 22% DOS JOVENS ESTÃO SOB RISCO DE
DESENVOLVER DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL. O QUE OS PAIS PODEM FAZER?
Natalia
Cuminale
Júlio deu o primeiro
gole em uma bebida alcoólica aos 12 anos. O pai deixou que ele experimentasse
um pouco do vinho durante um jantar. Aos 14, ele já conhecia os efeitos de um
porre. E, aos 16, o estudante acumulava histórias e vexames por conta do excesso
de bebida. Desde uma briga com a namorada – ele foi colocado para fora da festa
por um segurança - até um striptease no balcão de um bar. Mas, para os pais, o garoto é um santo.
“Na frente deles, em festas de família, eu só bebo
moderadamente. Na vida real, para ser descolado, todo mundo tem que beber”, diz.
CERVEJA, VODCA, VINHO E UÍSQUE. PROIBIDAS PARA MENORES DE 18 ANOS, AS BEBIDAS ALCOÓLICAS ESTÃO CADA VEZ MAIS PRESENTES NA ROTINA DOS ADOLESCENTES.
Sem limites e sem
conhecimento dos pais, jovens em idade escolar têm acesso livre aos drinques
carregados de álcool em festas de formatura, baladas ou bares.
“OS JOVENS NÃO
ENXERGAM A BEBIDA COMO ALGO RUIM POR CAUSA DA LEGALIDADE DA BEBIDA E DO FÁCIL
ACESSO. O QUE ELES NÃO SABEM É QUE O ÁLCOOL PODE CAUSAR VÁRIOS DANOS À SAÚDE E
TAMBÉM É UMA PORTA DE ENTRADA PARA OUTRAS DROGAS”, explica Ilana Pinsky,
vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas
(Abead).
APESAR
DA LEGISLAÇÃO, A DIFICULDADE PARA COMPRAR UMA BEBIDA É QUASE INEXISTENTE.
Ao contrário, a
compra é facilitada. Adolescentes frequentam festas conhecidas como open-bar, em que alguns tipos de bebidas são distribuídas livremente para quem
pagou o valor da entrada. Organizadas por empresas especializadas em
eventos, essas festas são um paraíso para os teens.
“Em geral, eles não pedem o meu documento. Quando
alguém pede meu RG, mostro o documento falsificado”, conta Roberta, 16 anos,
primeiro trago aos 14. Ela gasta R$ 50 de sua mesada quando vai a uma balada
open-bar, com direito a beber água, refrigerante, cerveja, catuaba, vodca e
jurupinga (uma espécie de combinação de vinhos) à vontade.
Segundo pesquisa
divulgada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 80% dos adolescentes já beberam alguma vez
na vida e 33% dos alunos do ensino médio consumiram álcool excessivamente no
mês anterior à pesquisa.
Outro estudo,
realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) com universitários, mostrou que 22% dos jovens estão sob risco
de desenvolver dependência de álcool.
MAIS UM
INDÍCIO: DE ACORDO COM O DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO DOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, O
NÚMERO DE JOVENS EM BUSCA DAS REUNIÕES AUMENTOU SIGNIFICATIVAMENTE NOS ÚLTIMOS
CINCO ANOS.
“Era um cenário esperado. Os jovens consomem
muito álcool e há uma preocupação, do ponto de vista médico, porque isso ocorre
cada vez mais cedo”, diz o médico Arthur Guerra de Andrade, do Departamento de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e autor
do estudo do Senad.
BEBER
DEMAIS NÃO É UMA CARACTERÍSTICA APENAS DO JOVEM BRASILEIRO.
Nos
Estados Unidos, uma pesquisa feita com adolescentes com idades entre 14 e
17 anos revelou que 39% declararam ter consumido álcool no mês que antecedeu o
estudo - número 11% maior do que encontrado no levantamento anterior,
realizado em 2008.
Outro
levantamento realizado no Reino Unido mostrou que 29% dos jovens com 16 e
17 anos afirmaram ter bebido alguma vez na vida porque estavam
entediados.
COMPANHIA PATERNA
- QUASE METADE DOS ADOLESCENTES EXPERIMENTOU ÁLCOOL PELA
PRIMEIRA VEZ PORQUE OS PAIS OFERECERAM.
“PROMOVER FESTAS DE 15 ANOS COM ÁLCOOL É ALGO
EXTREMAMENTE EQUIVOCADO. JOVENS MENORES DE 18 ANOS NÃO DEVEM – E NÃO PODEM
TOMAR. AO FAZER ISSO, VOCÊ DÁ UMA NOÇÃO DE QUE BEBER COM ESSA IDADE É NORMAL E
ACEITÁVEL”, diz Pinsky.
“Quanto
mais precoce o uso do álcool, maior o risco de dependência. O consumo de
qualquer droga altera funcionamento cerebral. Essa alteração predispõe a outros
distúrbios comportamentais”, explica a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do
setor de dependência química da Santa Casa do Rio de Janeiro.
No cérebro, o álcool age principalmente no hipocampo, pequena estrutura localizada nos lobos temporais, principal sede da memória, segundo explica Célia Roesler, neurologista da Academia Brasileira de Neurologia.
No cérebro, o álcool age principalmente no hipocampo, pequena estrutura localizada nos lobos temporais, principal sede da memória, segundo explica Célia Roesler, neurologista da Academia Brasileira de Neurologia.
“Quando um
adolescente bebe muito, acaba causando danos nesse hipocampo. Assim, a memória
fica ruim e prejudica o aprendizado e a motivação”, diz Roesler.
A JUSTIFICATIVA GERAL DOS ADOLESCENTES PARA O CONSUMO DA BEBIDA DURANTE AS SAÍDAS É A CORAGEM.
A JUSTIFICATIVA GERAL DOS ADOLESCENTES PARA O CONSUMO DA BEBIDA DURANTE AS SAÍDAS É A CORAGEM.
“O ÁLCOOL BLOQUEIA A INIBIÇÃO. COISAS QUE UMA PESSOA NÃO
FARIA SÓBRIA, ELA FAZ ALCOOLIZADA. E ISSO É UM GRANDE RISCO”, completa Roesler.
OS MÉDICOS SÃO UNÂNIMES EM AFIRMAR QUE O CORPO DE UM ADOLESCENTE NÃO ESTÁ PREPARADO PARA INGESTÃO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E QUE NÃO EXISTEM DOSES SEGURAS PARA O CONSUMO.
OS MÉDICOS SÃO UNÂNIMES EM AFIRMAR QUE O CORPO DE UM ADOLESCENTE NÃO ESTÁ PREPARADO PARA INGESTÃO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E QUE NÃO EXISTEM DOSES SEGURAS PARA O CONSUMO.
“EM PRIMEIRO LUGAR,
BEBER EM EXCESSO NÃO FAZ BEM PARA NINGUÉM. PIOR PARA OS ADOLESCENTES, QUE ESTÃO
PASSANDO PELO PERÍODO DE CRESCIMENTO, EM QUE TODAS AS CÉLULAS DO CORPO ESTÃO SE
DESENVOLVENDO.
O ÁLCOOL ENVENENA
TODAS ESSAS CÉLULAS E PODE ACARRETAR DANOS A TODOS OS ÓRGÃOS EM FORMAÇÃO”, diz
Mauricio Castro de Souza Lima, hebiatra (médico especialista em adolescência)
do Instituto da Criança.
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