Aula Expositiva
Idéias para renovar essa prática tão tradicional
Idéias para renovar essa prática tão tradicional
“Idéias e palavras podem mudar o mundo”
(Professor John Keating, personagem de Robin Williams
no filme “Sociedade dos Poetas Mortos” do diretor Peter Weir)
Já tentaram
enterrá-la. Sua existência tem sido criticada insistentemente por um grande
número de especialistas. Acredita-se que a vida nas escolas em pleno século XXI
pode e deve prescindir de seus préstimos. Sonham alguns com salas de aula
totalmente informatizadas onde os professores serão apenas condutores e orientadores
do processo de ensino-aprendizagem. Imagina-se até que a aula expositiva seja
um empecilho a educação em virtude da realidade em que está inserido o aluno
nesse mundo tão farto de novas tecnologias...
DUVIDE DE TUDO ISSO. ACREDITE QUE HÁ E QUE SEMPRE
EXISTIRÁ ESPAÇO PARA UMA BEM PREPARADA E PLANEJADA AULA EXPOSITIVA.
A despeito
dos entusiastas das tecnologias de informação e conhecimento (entre os quais me
incluo, com as devidas ressalvas ao uso exagerado dessas novas ferramentas de
trabalho em educação), o professor que tem pleno conhecimento dos conteúdos,
que domina as técnicas de apresentação oral de suas idéias e que organiza suas
aulas e projetos de trabalho com acuidade é e sempre será essencial para a
educação.
O que não pode acontecer em relação a essa
metodologia é a mesmice e nem tampouco sua utilização exclusiva como prática de
trabalho em sala de aula. Durante muito tempo tenho pesquisado e perseguido
alternativas de trabalho que tornem a educação muito mais atraente e
interessante aos olhos de nossos estudantes. As mudanças pelas quais o mundo
passou nas duas ou três últimas décadas mudaram completamente o perfil dos
alunos com os quais trabalhamos.
O advento dos
computadores, da Internet, dos comunicadores instantâneos, das câmeras digitais,
impressoras, telefones celulares, televisores de plasma e LCD, aparelhos de DVD
e tantas outras parafernálias eletrônicas que povoam os lares de milhões de
pessoas no mundo todo transformaram radicalmente a relação que estabelecemos
com a informação e com o conhecimento. Isso teve repercussões ainda maiores
entre as pessoas que nasceram durante essa autêntica revolução tecnológica
digital que estava acontecendo e que se acostumaram a conviver diariamente com
todos esses equipamentos.
DESAFIE SEUS ALUNOS EM SUAS AULAS EXPOSITIVAS.
Para os
jovens é muito mais fácil aprender a mexer com aparelhos como Ipods, celulares
ou computadores. Isso não é somente afirmação de especialistas, qualquer um de
nós pode constatar essa realidade no próprio ambiente doméstico quando tiramos
da embalagem um desses equipamentos e os colocamos em uso.
Normalmente
as crianças e adolescentes descobrem em poucos dias como se opera aquela
máquina e quais são suas principais funções. Enquanto isso, as pessoas mais
velhas da casa penam para utilizar essas tecnologias mesmo em suas funções mais
básicas. É sempre necessário recorrer ao velho e bom manual de instruções em
situações como essas para evitar embaraços...
Mesmo
levando-se em conta todo o fascínio que essas ferramentas da tecnologia
despertam em nossos estudantes não podemos deixar que o poder da palavra e do
conhecimento acumulados a partir de anos de estudo e experiência sejam
esquecidos ou desperdiçados. Tive uma excelente professora de história no
Ensino Médio que foi quem realmente despertou o grande interesse que tenho pela
área e que acabou influenciando decisivamente a minha escolha profissional.
Suas maiores
qualidades eram a clareza nas exposições orais que fazia, a capacidade de
síntese, a habilidade para transpor as informações para a lousa de forma a
ilustrar e facilitar nossa compreensão dos conteúdos ensinados. Trabalhava com
devoção e paixão pelo conhecimento, aprofundava-se constantemente, estudava e
planejava suas aulas e demonstrava consideração pelos estudantes ao atender
toda e qualquer dúvida que surgisse.
Valorize e estimule a participação de seus alunos.
Contava a
história dando a ela o sabor e o caldo necessários para que todos nós
ficássemos atentos e participássemos de suas aulas. Tudo isso aconteceu no
início dos anos 1980 e, como você já deve estar pensando, não tínhamos
computadores, Internet e nem mesmo televisores e videocassetes em nossas salas
de aula. Os recursos eram a lousa, os livros e cadernos, os estojos com seus
lápis e canetas e principalmente a imaginação, o estudo e o planejamento dos
professores.
Do mesmo modo
como me encantei com as aulas de história de nossa grande professora Maria
Januária Vilela Santos, tantos outros contemporâneos de estudos acabaram se
afeiçoando a matemática, a geografia, ao inglês, ao português, a biologia,... E
em todos os casos o grande artífice dessa obra ou ainda o querubim que atingiu
nossos corações e nos fez apaixonados por essas áreas do conhecimento
foram os professores.
Hoje em dia
já surge a preocupação com o surgimento das novas gerações de professores que
são totalmente dependentes da tecnologia e que, sem o auxílio de projetores,
computadores, powerpoint ou Internet não são capazes de realizar seu trabalho
com a qualidade que deles se espera.
Não estou
aqui advogando em favor de um retrocesso ou agindo de forma saudosista. Lembro apenas que apesar de toda a
tecnologia que existe no mundo temos que ser capazes de nos localizar no mundo
a partir da leitura das estrelas no céu...
LEMBRO SEMPRE DOS GRANDES NAVIOS DE CARGA
OU MILITARES QUE SINGRAM OS MARES E QUE, A DESPEITO DE TODOS OS MODERNOS
EQUIPAMENTOS DE QUE DISPÕEM DEVEM SEMPRE TER A BORDO PESSOAS QUE SAIBAM
UTILIZAR BÚSSOLAS, QUADRANTES, ASTROLÁBIOS E QUE TAMBÉM SAIBAM SE LOCALIZAR SEM
O AUXÍLIO DOS GPS, CONTANDO APENAS COM AS CONSTELAÇÕES E CONSAGRANDO OS MAPAS
QUE DIRECIONARAM OS CÉLEBRES VIAJANTES EM SUAS ROTAS RUMO AO DESCONHECIDO
DURANTE A MODERNIDADE...
Nesse sentido
penso que temos que alternar aulas em que utilizamos a tecnologia com aulas em
que somos os protagonistas, sem esquecer, é claro, que em ambos os casos é
possível inserir os dois componentes. Para que isso aconteça temos que,
primeiramente acompanhar com o máximo de proximidade os lançamentos e novidades
em livros, textos, artigos e estudos relacionados a nossa área de estudos e
trabalho.
ATUALIZE-SE E PLANEJE SUAS AULAS PREVENDO A
PARTICIPAÇÃO E AS DÚVIDAS DE SEUS ALUNOS.
Atualização é essencial em qualquer área do
conhecimento. Isso não deve, obviamente, se tornar uma obsessão. Até mesmo
porque vivemos num mundo tão voraz e acelerado que nem mesmo se tivéssemos todo
o tempo do mundo disponível para realizar essa pesquisa permanente seríamos
capazes de acompanhar tudo aquilo que se produz em uma determinada área do
conhecimento.
PARA QUE SUA AULA EXPOSITIVA SEJA
PERTINENTE É NECESSÁRIO ORGANIZAR OS ESQUEMAS MENTAIS QUE IRÃO ORIENTAR SUA
PRÁTICA EM SALA DE AULA.
Selecione
textos. Faça uma leitura acurada e precisa dos mesmos. Destaque as idéias
importantes. Trabalhe sempre com mais de uma obra de referência em cada aula.
Amplie a discussão trazendo opiniões e conceitos que entrem em choque e que
motivem polêmica e discussões.
Mesmo sendo a
sala de aula um palco onde teoricamente você é o protagonista, aprenda a dividir as atenções chamando seus
alunos para participar opiniões, dividir seus conhecimentos. Nunca despreze
a experiência anterior de seus estudantes, eles podem e devem auxiliar
constantemente o desenvolvimento de uma aula expositiva. A partir de suas
histórias de vida há muitos e muitos ensinamentos que irão reforçar (e muito)
os conhecimentos do próprio professor. DIGA-SE
DE PASSAGEM QUE A HUMILDADE INTELECTUAL É UMA DAS MAIORES VIRTUDES QUE UM
PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DEVE TER...
Apesar de ser uma aula expositiva não deixe
de contar com o apoio de trechos de textos, mapas, imagens relacionadas ao tema
trabalhado, trechos de filmes, artigos de jornais ou revistas, músicas,
reproduções de obras de arte e/ou qualquer outro recurso que possa reforçar
suas idéias.
DRAMATIZE SUAS AULAS. SE PUDER FAÇA AULAS
DE TEATRO PARA REFORÇAR ESSA PRÁTICA. Isso permite que você dê aos
conteúdos a alma e o encanto que em muitos casos faltam e que fazem com que os
estudantes acabem se desinteressando pelo seu trabalho.
PARA
FINALIZAR, NUNCA DEIXE DE DEMONSTRAR TODO O AMOR QUE VOCÊ TEM POR SUA ÁREA DO
CONHECIMENTO E TAMBÉM PELA EDUCAÇÃO.
Quando as
pessoas com as quais você está trabalhando percebem o quanto é importante para
você esse trabalho, elas também acabam dando muito mais valor a sua profissão,
a sua matéria e, consequentemente, ao curso que você está ministrando.
Em todas
essas orientações e sugestões de trabalho com aula expositiva cabe ressaltar
que o educador não deve jamais deixar de ser quem realmente é. Tenha
personalidade, nunca abdique de sua essência e, acima de tudo, tenha orgulho de ser quem é e de fazer o que faz.
Altivez é palavra de ordem em qualquer profissão, principalmente em educação...
João Luís Almeida Machado
Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando pela PUC-SP no programa Educação:Currículo;
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie(SP);
Professor universitário e Pesquisador atuando no Centro Universitário Senac em Campos do Jordão
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